NO BANCO DOS RÉUS

A cúpula que, ao que tudo indica, tentou um golpe de Estado agora enfrenta a Justiça, em um julgamento que entra para a história da Nova República.

A cena foi emblemática: Jair Bolsonaro sendo questionado por Alexandre de Moraes no Supremo Tribunal Federal. Um momento que escancarou o abismo entre a valentia performática das redes sociais e o constrangimento real de quem precisa responder por seus atos diante da Justiça. Como o cão que só late atrás do portão, o ex-presidente mostrou que a retórica inflamada não se sustenta sob a pressão da lei.

(Foto original: André Borges/EPA | Edição: Carlos Santana)

Nem mesmo a tentativa de quebra de gelo com uma piada fora de hora arrancou reações favoráveis. Pelo contrário, soou deslocada e evidenciou o desconforto do momento.

Outros protagonistas desse episódio sombrio da nossa história recente também passaram por sua vez no interrogatório. O general Heleno, declarado “paixão” de Bolsonaro em uma confissão pública constrangedora, e Walter Braga Netto, ex-ministro da Defesa, apareceram visivelmente descolados da gravidade da situação. Sorridentes, mesmo diante de acusações seríssimas, agiram como se estivessem apenas discutindo versões dos fatos — quando, na realidade, tudo indica que participaram de um plano deliberado de ruptura institucional e tomada do poder à força, atropelando o Estado Democrático de Direito.

Enquanto isso, é fácil imaginar Lula acompanhando atentamente a audiência, que certamente teve altos índices de audiência na TV Justiça, assim como a recente CPI das Bets atraiu olhares atentos no Senado. As imagens se espalharam rapidamente por canais de notícias e redes sociais, ampliando ainda mais a humilhação pública daqueles que, não faz muito tempo, se apresentavam como líderes de uma “nova era”.

Agora, no banco dos réus, restam as máscaras caídas. O julgamento que se desenrola no STF marca mais do que uma página importante da história. Representa um divisor de águas para a democracia brasileira.

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