EFEITO FELCA E O ASSUNTO QUE UNIU O BRASIL

Se há algo capaz de indignar absolutamente todos os estratos da sociedade, dos mais corretos aos mais marginais, é a exploração, agressão e violação de crianças e adolescentes. Foi nesse território sensível, onde a repulsa é unanimidade, que o Brasil se viu mergulhado após as denúncias trazidas à tona pelo vídeo do youtuber Felca, que expôs conteúdos de influenciadores, sobretudo de Hytalo Santos, que construiu fortuna gerando material de altíssima gravidade envolvendo crianças que, segundo ele, havia adotado.

O vídeo, com cerca de 50 minutos, já ultrapassa 10 milhões de visualizações e incendiou debates tanto na mídia tradicional quanto nas redes sociais. Um detalhe, porém, não passou despercebido: o silêncio quase sepulcral de grandes influenciadores, especialmente daqueles que exploram a imagem de seus próprios filhos para monetização.

Felca e Hytalo Santos 
(Foto: Internet / Edição: Carlos Santana)

Um dos momentos mais impactantes da produção é quando Felca desmonta, com embasamento técnico, o funcionamento de algoritmos que entregam conteúdos com imagens de menores para perfis com comportamento suspeito, possivelmente consumidores de pornografia infantil. A presença de uma psicóloga no vídeo reforça a gravidade e a solidez das informações apresentadas, tornando-o irretocável em seu caráter estarrecedor.

Hytalo, alvo de pedidos de prisão preventiva, está com redes sociais suspensas e sua imagem afundada na repulsa nacional. Milhões de brasileiros agora parecem finalmente perceber a gravidade dos conteúdos sexualizados que o influenciador produzia com as crianças e adolescentes que viviam em sua casa, um cenário mais próximo de um reality show macabro do que de um lar.

O impacto do vídeo coincidiu, ainda que de forma não planejada, com um momento de tensão política em Brasília. No Dia dos Pais, Jair Bolsonaro cumpria prisão domiciliar, e as atenções que antes estavam concentradas na crise política migraram para um ponto de convergência: a rejeição absoluta ao abuso infantil. Ao menos no discurso. Na prática, como prova o caso Hytalo, conteúdos do tipo sempre circularam nas plataformas e, com a monetização, ganharam mais incentivo para explorar menores.

Pautas até então consideradas urgentes, como o fim do foro privilegiado e a anistia, foram engolidas pela nova prioridade: a regulação das redes, um antigo desejo do Partido dos Trabalhadores.

Resta saber se essa súbita união nacional em defesa dos mais vulneráveis resistirá ao teste do tempo ou se, passada a comoção, voltaremos à velha indiferença seletiva que sempre permitiu que o pior estivesse a um clique de distância.

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