O REAL QUE RESISTE: A MOEDA BRASILEIRA NO OLHO DO FURACÃO POLÍTICO E ECONÔMICO

Mesmo após o tarifaço de Donald Trump, que impôs aos exportadores brasileiros uma taxa de 50% sobre produtos destinados aos Estados Unidos, o real mostrou força e fechou o pregão de ontem no menor valor em quase um ano: R$ 5,38. Há poucos meses, em meio a um cenário de incertezas econômicas, a moeda brasileira superava os R$ 6,00.

(Foto: Internet / Edição: Carlos Santana)


O contexto é de turbulência política e diplomática. As sanções impostas por Trump se somam à aplicação da Lei Magnitsky contra ministros do STF, enquanto o Brasil se vê politicamente dividido, transformando a economia em um jogo de fla-flu. O resultado é a ameaça direta a dezenas de milhares de empregos ligados à exportação.

A medida de Trump gerou críticas inclusive de quem reconhece seu viés protecionista. Isso porque o Brasil importa mais dos Estados Unidos do que exporta para lá, mantendo uma balança comercial favorável aos norte-americanos. Em tese, não faria sentido se proteger de uma economia que não representa ameaça direta.

No Congresso, a polarização foi encenada com episódios inusitados: parlamentares aliados de Jair Bolsonaro ergueram faixas com os dizeres "Make America Great Again" e "Go Trump" durante uma comissão da Câmara. Uma cena que nem os roteiristas mais criativos de Hollywood poderiam conceber — mas que, no Brasil, virou fato.

A esquerda, por sua vez, encontrou terreno fértil para um discurso nacionalista e de soberania que antes era majoritariamente associado à direita. A estratégia ganhou força nas redes sociais e vem produzindo efeito.

Enquanto isso, nos bastidores, o deputado Eduardo Bolsonaro e o comentarista Paulo Figueiredo articulam nos Estados Unidos para boicotar a relação bilateral, com proximidade notória de figuras ligadas a Trump. Comunicados da Casa Branca chegam às redes bolsonaristas antes mesmo de serem divulgados oficialmente pelo governo americano, revelando acesso privilegiado e influência.

Apesar do cenário, o impacto econômico ainda não se fez sentir em larga escala. O presidente Lula prepara um pacote de apoio aos setores atingidos, evitando acionar a Lei de Reciprocidade — medida que, segundo o próprio governo, traria mais prejuízos do que benefícios, já que os EUA têm mais vantagens comerciais que o Brasil.

Há três décadas o real enfrenta ondas de instabilidade, sobrevivendo a crises políticas e econômicas internas e externas. Resiliente, a moeda não é apenas um índice de câmbio: neste momento, é símbolo de um país que, mesmo cercado por disputas e jogos de poder, insiste em permanecer de pé.

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