GERAÇÃO Z DERRUBA GOVERNO NO NEPAL APÓS BLOQUEIO DE REDES SOCIAIS: O ALERTA QUE O BRASIL NÃO PODE IGNORAR

O Nepal viveu nas últimas semanas uma das maiores crises políticas de sua jovem democracia. O estopim foi o bloqueio de 26 redes sociais ordenado pelo governo, entre elas Facebook, Instagram, YouTube, X, WhatsApp e LinkedIn. A justificativa oficial falava em combater desinformação e exigir que as plataformas tivessem representação legal no país. O resultado foi exatamente o oposto do esperado: a Geração Z tomou as ruas e transformou o bloqueio em símbolo de resistência. O saldo é de mais de 19 mortos, centenas de feridos, pedidos de renúncia do primeiro-ministro e um governo que perdeu legitimidade diante do mundo.

Milhares de jovens foram às ruas e com forte violência derrubaram o governo do Nepal. 
Imagem: AP | Edição: Carlos Santana

As redes sociais tiveram papel central na crise. Primeiro serviram como espaço de denúncia e mobilização. Hashtags como “Nepo Kids” viralizaram expondo filhos de políticos ostentando privilégios em um país com alto desemprego e desigualdade gritante. Quando o bloqueio foi imposto, o que era apenas revolta online se transformou em protestos massivos em Katmandu e outras cidades. O governo acreditou que calaria vozes, mas conseguiu unir uma geração inteira contra si.

A violência escalou rapidamente. Casas de líderes políticos foram incendiadas e há relatos de mortes de parentes de figuras importantes. Fontes independentes confirmam ao menos 19 mortes em confrontos com a polícia. A pressão interna e internacional fez o governo recuar e restabelecer o acesso às redes, mas a crise de legitimidade já estava instalada.

A pergunta inevitável é se algo parecido poderia acontecer no Brasil. Por aqui, o debate sobre regulação das redes sociais está avançando, com o Supremo Tribunal Federal julgando casos de fake news e o Congresso discutindo o chamado PL das Fake News. Ao mesmo tempo, há setores bolsonaristas que abertamente pedem para que o Brasil siga “o caminho do Nepal”, ou seja, que use o caos social para forçar uma ruptura institucional. Alguns deputados da oposição repercutiram o levante nepalês com conotação golpista, o que acende um alerta vermelho.

Existem semelhanças inegáveis. O Brasil também vive polarização extrema, desconfiança nas instituições e uma juventude cada vez mais conectada. As redes sociais funcionam como combustível para narrativas de indignação. Bloqueá-las ou controlá-las de forma arbitrária seria arriscado e poderia gerar reação contrária, dando às ruas um poder que hoje está difuso no ambiente digital.

Mas também há diferenças importantes. O Brasil tem instituições mais robustas, imprensa independente e uma democracia mais consolidada que a do Nepal. Um bloqueio amplo de redes sociais encontraria barreiras jurídicas, resistência de organizações civis e repercussão internacional imediata.

O que o Nepal ensina é que governos que tentam controlar o debate público por meio de censura digital correm o risco de perder o controle da situação. O efeito pode ser devastador. A lição vale para qualquer espectro político. Em vez de usar a tecnologia como ferramenta de repressão, é preciso investir em transparência, educação midiática e fortalecimento institucional. Caso contrário, a próxima revolta digital pode estar mais perto do que se imagina – e talvez com consequências ainda mais graves.

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