LULA E TRUMP: QUÍMICA PASSAGEIRA OU REARRANJO ESTRATÉGICO?

Na abertura da Assembleia Geral da ONU, Lula reafirmou a marca de seu discurso internacional: defesa da soberania, crítica às sanções unilaterais e a denúncia do genocídio em Gaza. Relembrou que o Brasil voltou a sair do Mapa da Fome, insistiu em que democracia exige responsabilidade e expôs o abismo entre países ricos e pobres. Sua fala foi de quem busca projetar o Brasil como voz independente em um mundo dominado por potências que confundem interesse próprio com direito universal.

Lula e Trump se encontraram, abraçaram e marcaram um encontro para a semana que vem. A química a primeira vista pode amenizar a crise entre os dois países. Quem diria...
(Imagem: IA) 

Trump, por sua vez, subiu ao púlpito com a previsibilidade de quem jamais abandonou o “America First”. Chamou a ONU de instituição ineficiente, atacou políticas de migração, ironizou o combate às mudanças climáticas e descartou a viabilidade imediata de um Estado Palestino. Seu tom foi menos o de um líder disposto a dialogar e mais o de quem deseja impor sua visão de ordem.

Entre discursos tão diferentes, o detalhe que chamou atenção foi a declaração de Trump após um breve encontro de 39 segundos com Lula nos bastidores. Disse ter sentido uma “química excelente” e revelou que os dois terão uma reunião formal na próxima semana. Para alguns, trata-se apenas de cortesia diplomática. Para outros, é o indício de que há espaço para rearranjos pragmáticos, mesmo entre líderes que partem de horizontes ideológicos opostos.

O fato é que Lula precisa equilibrar sua retórica soberanista com a necessidade de manter o Brasil inserido no comércio global. Trump, por outro lado, sabe que a América Latina não pode ser desprezada, sobretudo em um contexto de disputas com a China e a Rússia. O encontro rápido pode ter sido apenas cordialidade, mas pode também esconder movimentos mais profundos.

A pergunta que fica é: quando a política internacional se veste de simpatia pessoal, quem de fato se beneficia? O povo ou os interesses que nunca aparecem nos discursos?

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