PAPUDA OU QUARTEL ? O IMPASSE QUE ACOMPANHA A INEVITÁVEL CONDENAÇÃO DE BOLSONARO

Com a condenação praticamente dada como certa, resta à Justiça definir onde Jair Bolsonaro deve cumprir pena. A defesa deve insistir na prisão domiciliar, mas até que isso seja analisado em recurso, o ex-presidente poderá iniciar a pena, que pode chegar a 20 anos, na Papuda ou em uma unidade militar. A segunda hipótese, contudo, encontra resistência entre os generais, que temem transformar quartéis em pontos de romaria para apoiadores. Não é sem precedente: Braga Netto, ex-ministro da Defesa e candidato a vice na chapa de Bolsonaro, cumpre hoje sua pena em uma sala do Exército.

(Imagem: Internet | Edição: Carlos Santana)

O julgamento segue em curso, mas já tem o voto de Alexandre de Moraes, relator do caso no STF. Ele conduz também o inquérito que responsabiliza os envolvidos na tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2023. Logo na segunda semana do julgamento, divergências vieram à tona. Moraes e Luiz Fux se distanciaram em pontos-chave, e o incômodo do ministro com a postura do relator foi visível. Fux há tempos é visto como voz dissonante dentro de um tribunal que, em geral, converge para decisões majoritárias.

Enquanto isso, no campo político, a manifestação de 7 de setembro expôs mais fissuras na direita. Tarcísio de Freitas, ao lado de bolsonaristas radicais em São Paulo, foi constrangido em plena Avenida Paulista. Silas Malafaia, organizador do ato, declarou diante da multidão que não há substituto para Bolsonaro em 2026, deixando Tarcísio e Romeu Zema, governador de Minas, em situação desconfortável. Quem parece ganhar espaço silenciosamente é Ratinho Junior, do Paraná, que observa os rivais se desgastarem.

O evento também foi palco de cenas bizarras. Uma bandeira gigante dos Estados Unidos foi estendida sobre a Paulista, destoando das pequenas bandeirinhas do Brasil. A imagem correu o mundo como símbolo da “vira-latice” de quem usa um feriado nacional para exaltar outra nação. Seria impensável algo semelhante em pleno 4 de julho nos Estados Unidos. Até Malafaia, organizador do ato, criticou o uso de símbolos estrangeiros em uma manifestação que se pretendia patriótica.

Ainda faltam os votos de Flávio Dino, Cármen Lúcia, Luiz Fux e Cristiano Zanin. Mas, salvo uma surpresa improvável, a condenação de Jair Bolsonaro já é tratada como inevitável.

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