INDICAÇÃO DO NOVO MINISTRO DO STF MOSTRA O PRAGMATISMO DE LULA

Como o presidente Lula pode passar de ícone de prestígio internacional a protagonista de mais uma controvérsia doméstica por causa da sua nova indicação ao Supremo Tribunal Federal. A pauta de diversidade racial e de gênero, ao que tudo indica, vai ter de esperar.

O eleitor lulista esperava um gesto simbólico. Uma mulher, de preferência negra, ocuparia a cadeira deixada por Luís Roberto Barroso; que decidiu se aposentar precocemente em meio às turbulências políticas e às supostas pressões internacionais ligadas à Lei Magnitsky. Nos bastidores, circula a tese de que Barroso teria preferido sair antes de ser eventualmente alvejado pelos EUA sob acusações de violação de direitos humanos, uma retórica que a direita abraçou com entusiasmo. Nessa mesma linha conspiratória, há quem diga que até William Bonner teria deixado o comando do Jornal Nacional por precaução, temendo os reflexos de uma possível sanção que atingisse seus filhos no exterior. Verdade ou ficção, o fato é que o clima de incerteza virou argumento político.

Lula e o mais cotado para indicação à vaga de Barroso no STF, Jorge Messias. 
(Imagem: Internet | Edição: Carlos Santana)

Eis que a vaga aberta no Supremo tende a ser ocupada por Jorge Messias, o “Bessias"; personagem que voltou ao centro da cena após quase uma década de ostracismo. O mesmo Bessias da crise de 2015, quando Dilma Rousseff tentou nomear Lula ministro para blindá-lo da prisão. O episódio, lembrado pela célebre gravação telefônica, virou símbolo da derrocada do governo petista. Agora, em um enredo que só a política brasileira poderia escrever, Dilma preside o Banco dos BRICS e o antigo advogado da AGU pode assumir uma das onze cadeiras mais poderosas da República.

A escolha parece contrariar o apelo crescente por diversidade e representatividade na Suprema Corte; ainda um espaço de predominância branca, masculina e de sobrenomes ilustres. Lula, no entanto, parece fiel a uma lógica que o acompanha desde sempre: a da confiança pessoal e do pragmatismo político.

O Brasil quer se ver no espelho do Supremo. Mas, ao que tudo indica, Lula quer ver o Supremo no reflexo de si mesmo.

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